segunda-feira, 25 de maio de 2009

Vinculação

Ao que nos une, ao que nos liga uns aos outros, ao sentimento que nos faz permanecer juntos e atentos, ainda que a distancia de vez em quando se interponha, costumamos chamar amor.
Provavelmente, é palavra a menos a designar a complexidade de sentimentos que somos capazes de experimentar nessa tarefa ardua, constante, sempre inacabada e sempre em transformação de eleger pessoas significativas e razoavelmente constantes com as quais nos preocupamos, em quem pomos tantas expectativas e com as quais organizamos uma topografia particular a que chamamos o nosso mundo.
Para lá da enorme abstracção da Humanidade como um todo a que pertencemos, que nos diz respeito e com a qual é suposto sofrermos e inquietarmo-nos, conseguimos ser absolutamente prosaicos e sentir sentimentos verdadeiros em relação aquela dúzia e meia de criaturas que julgamos conhecer bem, que interagem connosco quotidianamente e que ocupam espaço, tempo e memória dentro de nós.
Tirando esses poucos, que de facto são as grandes referencias e suportes afectivos e materiais da nossa forma de viver e que, por isso mesmo, são capazes de nos fazer muito bem ou muito mal, os outros todos que nos rodeiam com diferentes graus de proximidade são apenas figurantes que compõem a acção, dão brilho e movimento ao fundo em que evoluímos.
A ideia corrente, que nos faz crer que, porque viajamos, porque andamos de um lado para outro e nos deslocamos com rapidez no mundo, entrando em contacto com muitas gentes e falando em muitas línguas, alargamos o nosso leque de relações profundas, é em si mesma falaciosa.
Parece que o conhecimento e a interacção social, a popularidade traduzida em muitos cumprimentos e em muitos nomes e caras que se conseguem recordar, não são medida de vinculação.
Calcorreando meio mundo, transportamos em nós uma família; a nossa; um bairro: o nosso; uma história: a nossa.
É a esses poucos que voltamos em todas as circunstancias, é a esses que queremos agradar, são deles as opiniões que contam.
Também é verdade que é para esses que amamos que mais sentimentos reservamos.
Culpamo-los do que podemos: desamor, falta de compreensão e apoio, orgulho e teimosia, desinteresse dos nossos projectos e dos nossos sonhos.
São esses os que mais vezes detestamos, porque traíram expectativas, não estiveram lá quando foram precisos ou simplesmente são demasiado diferentes do que achamos que necessitaríamos.
É com eles que nos zangamos, forte e feio, é a eles que chamamos nomes, é com eles que deixamos de falar com vingança para a dor que conseguiram provocar.
São eles que responsabilizamos por tudo o que nos diz respeito porque, de alguma forma, são nossos.
O que nos une, o que nos liga, o que nos faz sentir que pertencemos é demasiado deficit para encaixar bem na palavra que usamos: amor.
Mas é também de amor que se fala quando se pretende explicar o que nos vincula aos outros e ao mundo.

1 comentário:

Fernanda disse...

É exactamente assim que penso..:))
Estamos vinculados uns aos outros,...mas só a algumas nos damos completamente.E é com essas que: "conseguimos ser absolutamente prosaicos e sentir sentimentos verdadeiros em relação aquela dúzia e meia de criaturas que julgamos conhecer bem, que interagem connosco quotidianamente e que ocupam espaço, tempo e memória dentro de nós.

Para ti...aquele abraço sem mar

:))