sábado, 1 de agosto de 2009

Um afago na noite, apenas

Sente-lhe a respiração leve e serena. o corpo tépido e repousado. Suspensa no ar, a calma da noite. Por dois interstícios da persiana entram no quarto pequenos riscos de luz. Pensa: persiana, palavra bonita; de onde provirá?, persa, persiana?, talvez. .
Ela move-se mas permanece na posição anterior. Leu, em tempo, que um corpo dormente volta-se catorze vezes, a fim de manter o desejável equilíbrio físico. Passa com a mão, pelo volume do corpo dela. Não é desejo: é ternura. Um afago na noite, apenas.
Eram tão novos, quando se conheceram; tão. Recorda-se de como gostava de observar raparigas em bando; riam. Tenta reavivar a memória dos perfumes delas, o odor delicado dos corpos; tenta.
Iam ao cinema, aos domingos. Ela apreciava Tyrone Power e Errol Flynn; ele, Lana Turner e Ava Gardner. Houve uma época em que imitava Humphrey Bogart: zambrene e cigarro; enrugava a testa. (...)
Os anos foram correndo sem nunca se atropelar uns aos outros; lentos, fatais como um mau presságio. (...)
Ela volta-se na cama. Acordou; finge que não. Não o quer acordar. Ele sabe estar ela acordada; finge que não. Respiração leve e serena. Ambos.

por Baptista Bastos


3 comentários:

wind disse...

Lindo post:)
Beijos

Isaura Pereira disse...

Combinação perfeita;)

Jocas

Fernanda disse...

Acho que sim........que deve ser assim...
Depois da paixão...o amor...e depois a ternura...o ser incapaz de vicer sem ela...
Acho bonito...acho até que é a uncia coisa que deve dar paz interior...é ter esse sentimento de ternura depois de tantos anos juntos.

Gostei de ler

Abraço sem mar