segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Prazer das Pequenas Coisas

O Prazer das Pequenas Coisas,
por Isabel Leal, professora de psicologia, Clínica do ISPA

De vez em quando, raramente mesmo, acontecem grandes coisas que nos despertem e emocionam.
Se quisermos dar-nos ao trabalho de sistematizar os grandes eventos da nossa vida, conseguiremos com alguma boa vontade, preencher meia página de tópicos sobre os nossos acontecimentos memoráveis.
Para quase todos há a assinalar um ou dois grandes amores, uma ou duas viagens significativas, um ou dois feitos transcendentes, uma ou duas comemorações excepcionais, em que se incluem nascimentos e casamentos. Raríssimos poderão acrescentar à lista o terem ganho o Totobola, o serem herdeiros de uma grande fortuna, o terem atingido o satori, descoberto uma cura milagrosa, ganho o Prémio Nobel ou qualquer distinção de mérito.
Por outro lado, se o exercício proposto for o de estabelecer os acontecimentos infelizes que marcam as grandes desgraças que nos tocaram à porta, a outra meia página costuma chegar. Aí referimos as grandes perdas que nos afligiram por mortes ou separações, as grandes injustiças de que fomos vítimas, as doenças ou acidentes que nos fizeram perceber outras dimensões do sofrimento. Com tantas raras e infelizes excepções, daqueles a quem tudo o que é mau parece acontecer, a maioria tem a revelar uma curta lista de acontecimentos significativos, divididos entre positivos e negativos.
Resulta desta limitada enunciação o facto, mais que estabelecido, de que a vida de quase todos nós é feita de pequenos nadas, de que os anos entram e saem sem que nada de especial nos aconteça, de que a nossa vida pode ser narrada como idêntica a tantas outras, Sem grandes peripécias nem azares extremos, mas também sem réstia de brilho nem momentos de glória.
Colocados, por isso, no mais banal território em que as preocupações se repartem entre questões de saúde menores, falta de dinheiro para o que se gostaria, desencontros relacionais previsíveis e rotinas cansativas mas securizantes, resta-nos inventar cor e fazer das pequenas coisas que nos são acessíveis agradáveis passatempos e interessantes estímulos.
É aqui, neste imenso e enorme desafio que é o de encontrar sentidos nos pequenos gestos quotidianos, que a qualidade de cada um se joga.
Pode sentir prazer em encontros breves ou em conversas quentes, descobrir o sabor alegre de bergamota numa vulgar chávena de chá, adormecer em doçura no conforto das lãs ou dos edredões, sorrir, contente, porque há um livro à nossa espera, um corpo ao pé do nosso, um dia outro para nascer, são habilidades providenciais, que nos fazem toda a diferença e nos permitem ficar do lado do prazer ou mergulhar no limbo da monotonia ou no purgatório da tristeza. Parece que há um deus das pequenas coisas, milagreiro e suave, que espero que conheçam

2 comentários:

wind disse...

Estou completamente de acordo:)
O meu prazer de momento é relaxar à noite a ver a tv:)
Beijos

Fernanda disse...

Como isto é verdade.
Adorei ler, porque é exactamente assim que penso..
E, eu já escrevi nessas páginas,o bom e o mau...
Resta apenas as pequenas coisas, que se vai somando, acrescentando à nossa vida, porque afinal, o que todos desejamos,é sermos felizes o máximo de tempo possivel...
E tal como psic. Isabel Leal diz:

"Parece que há um deus das pequenas coisas, milagreiro e suave, que espero que conheçam."

:))

Subscrevo

Um Beijo grande e feliz como as coisas simples...
Bom fim de semana
:)